quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Abandono de mim


Aqui estou, debruçada na minha janela, bebendo os transeuntes com toda sofreguidão, tentando reter qualquer resquício que puder mostrar o rastro "daquele rosto".As cores desfilam, e meus olhos atentos ao verde de uma esperança vã...Lá fora, Joãos e Marias, rostos sem viço, no correr infinito em busca do que acreditam ter restado dos sonhos...Numa laje fria, de um branco azulejo, jaz uma expectativa...Não há lamento, sequer dor, apenas a constatação latente nestes rostos...Volto-me pra dentro de mim, remetendo-me aquele frio...Onde andaria meu guardião?... Meus braços que me abraçaram numa noite infinita, meus olhos que me beberam, que me acenderem e prevaleceram por tantos meses? Anos...Onde estão aquelas mãos que me lambuzaram de graxa, numa tinta que estigmatizou meu gozo, tatuando dragões e escorpiões, nos dois lados de uma balança, que não tendiam a lado algum, mas salpicavam estrelas negras em meu ventre nu, me levando às nuvens, numa viagem que eu não queria voltar...Vou dando um matiz improvável na escuridão desta espera, tingindo minha cara de uma ironia que contradiz o meu rosto...E aquelas mãos que me atormentam, mãos que crescem que tomam contam, mãos que impõe o abandono...