quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Amanhece


Um sol devasso vem lamber meus pés que despertam...Ele entra meio de mansinho pela janela aberta, num calorzinho gostoso se misturando ao que sobrou do sonho, percebo que estou acordando, não de todo alguma coisa ainda dorme...Devagarzinho vou apagando o sorriso que também sobrou indo figurar na dimensão estática, já que o dia me remete à sua dinâmica.Levanto-me e me dirijo meio sem vontade ao banheiro, onde uma água fresquinha vai acordar meu corpo e encher de vida meu dia.No espelho uma imagem de mim vazia, não me dá bom dia e descubro-me de mau humor. Coloco-me debaixo do chuveiro onde minha alma também é lavada, não penso em nada e isso é como um bálsamo, já que penso o tempo todo.Ficaria ali por um bom tempo ainda, mas tenho que ir...Meus olhos agora despertos me fitam no espelho, reconheço-me, e isso é reconfortante, com um sorriso aprovo a imagem de mim pura e fresca, como se o tempo não tivesse passado e me saúdo com um sorriso mais largo.O relógio brinda-me com a vida rítmica e incessante, meu peito sobe num suspiro mal contido, minha sensualidade zomba de mim, os minutos passam...Terei que correr é a consciência mais imediata, que se sucede incontinenti ao pensamento, de que ninguém me espera...Nossa!... Ninguém me espera e ainda assim tenho que correr.Outro pensamento...Decerto alguém me espera, muito longe daqui...E mais outro, que corre veloz e nu, pelas cidades antigas e cheias de fantasmas, que não assustam, porque é dia...Uma nova lenda surge, não há temor, apenas uma vivacidade que contagia e extenua, o pensamento ri dos rostos que passam na alegria de sabê-los...